terça-feira, 27 de maio de 2008

POESIA MATEMÁTICA

Às folhas tantas

Do livro matemático

Um Quociente apaixonou-se

Um dia

Doidamente

Por uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável

E Viu-a, do Ápice à Base,

Uma Figura Ìmpar; Olhos rombóides, boca trapezóide,

Corpo ortogonal, seios esferóides, Corpo ortogonal.

Fez da sua

Uma vida

Paralela à dela

Até que se encontraram

No Infinito.

“Quem és tu?” indagou ele

Com ânsia radical.

“Eu sou a soma do quadrado dos catetos.

Mas pode me chamar de Hipotenusa.”

E de falarem descobriram que eram

- O que, em aritmética, corresponde

A almas irmãs –

Primos-entre-si.

E assim se amaram

Ao quadrado da velocidade da luz

Numa sexta potenciação

Traçando

Ao sabor do momento

E da paixão

Retas, curvas, círculos e linhas senoidais

Nos jardins da Quarta Dimensão.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas

E os exegetas do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram se casar

Constituir um lar,

Uma Perpendicular.

Convidaram para padrinhos

O Poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro

Sonhando com uma felicidade

Integral

E diferencial.

E se casaram e tiveram uma secante e três cones

Muito engraçadinhos.

E foram felizes

Até aquele dia

Em que tudo, afinal,

Vira monotonia.

Foi então que surgiu

O Máximo Divisor Comum

Freqüentador de Círculos Concêntricos

Viciosos

Ofereceu-lhe, a ela,

Uma Grandeza Absoluta,

E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu

Que com ela não formava mais Um Todo,

Uma Unidade. Era o Triângulo, Tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a fração

Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade

E tudo que era espúrio passou a ser Moralidade

Como, aliás, em qualquer

Sociedade.

Millôr Fernandes. Trinta anos de mim mesmo.

Rio de janeiro, Nórdica.

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